A Arte transforma e salva!

Se você já acessou outros materiais deste webdocumentário, já deve estar envolvido/a por essa atmosfera da produção artística nos bairros do Barreiro e Jurunas em Belém do Pará. Agora queremos falar da função social da Arte, tema que nossos/as 6 protagonistas trouxeram muito bem em suas falas.

As ciências sociais e das artes já apontam há bastante tempo que a Arte é transformadora e humanizadora. Isso porque, ao nos depararmos com uma obra artística, não estamos diante de algo irreal, mas sim de uma produção que certamente nasceu da necessidade de cada artista, em determinado contexto, de entender e representar a sua realidade e a de outras pessoas, expressando significados e valores coletivos. “Por meio da arte o sujeito torna-se consciente de sua existência social como fruto de diferentes práticas e relações sociais, e em determinado momento histórico” (LUGÃO, 2009, p. 30).

Essa transformação social e esses/as sujeitos/as são exatamente a maior motivação que os/as artistas aqui entrevistados/as têm para seguir suas produções e intervenções artísticas e culturais. O rapper Samu Periférico diz que busca contribuir com sua comunidade por meio da cultura hip hop, afirmando que “ela é muito abrangente, porque prega o respeito acima de tudo, não importa sua identidade, seu gênero”. E completa dizendo: “falamos das violências que nosso povo sofre, da situação da mulher vista como minoria, o machismo em si. A gente tenta desconstruir tudo isso que o sistema opressor vem trazendo desde quando invadiram o Brasil”.

Laura Sena busca manter vivas no bairro do Barreiro as raízes da cultura popular paraense, e com isso garantir o direito de acesso à produção artística e cultural. Assim, ela deixou no seu relado a seguinte afirmação: “Eu faço arte também com base no ECA, para garantir que essas crianças tenham esse direito, para garantir que tenhamos uma sociedade com jovens que gostem da sua cultura”. A artista ressalta que essa é uma forma dela contrapor a facilidade de acesso a outras culturas por meio da internet.

Essa garantia de acesso aos bens artístico-culturais dentro da própria comunidade é uma forte motivação na hora de produzir Arte nas periferias. Ordep traz suas memórias de infância para refletir sobre sua produção no grafite, lembrando de suas vivências na periferia, e lembra: “Minha infância foi na periferia e a gente acaba enxergando o que a gente não tinha, o que não era acessível, o que não era proposto ali, o que não estava próximo de mim”.

Ordep, assim como Carol  Magno, expressam o desejo de que o Jurunas tenha, dentro do seu território, os espaços e a realização de eventos e ações artísticas que eles não tiveram na infância. Como poeta que é, Carol já deixa claro nas suas palavras que faz Arte “pelo Jurunas, para o Jurunas e no Jurunas”. E completa dizendo: “faço arte para que as próximas gerações tenham mais acesso do que a minha teve. Eu acredito que a cultura não tem que ser elitizada, ela não precisa ser elitizada. Ela precisa ser democratizada, igualitária, ela precisa ser um bem comum”.

Neste sentido, o artista visual Awazônia deixa a proposta de “descentralizar e levar as galerias para dentro das periferias”. E sobre o fazer Arte na periferia, ele afirma: “fazemos essa luta diária, para se autoproduzir e levar essa arte para dentro do bairro”.

Não à toa que ele também faz parte do coletivo Núcleo Sociocultural e Ambiental São Joaquim, que tem atuação autônoma nas suas atividades e que visa levar ações artísticas e culturais para o Barreiro. Seu Manoel Fonseca, representante do Núcleo neste webdoc, diz que a luta do coletivo “é para mostrar os valores dentro da comunidade. Se acontece o crime, a situação de contravenção da lei, também é por conta de falta de oportunidades que o pobre não tem”.

Por meio dessas falas tão potentes que emergem do Barreiro e do Jurunas, respiramos os ares da revolução artística cultural em curso dentro das periferias. Para concluir, finalizamos com o relato de Awazônia: “a gente sabe da importância da Arte, a gente sabe que a Arte salva, porque ela mudou a minha vida, mudou a forma como eu vejo o mundo. Então a gente faz por amor, mas também por melhorias, porque a Arte pode mudar as coisas ruins que acontecem com a gente”.

Galeria

REFERÊNCIA 

LUGÃO; Káthia Gomes. O Ensino da Arte no Desenvolvimento Integral do Indivíduo - Conhecer a Si Próprio. Rio de Janeiro, 2009. Monografia (Pós-Graduação em “Lato Sensu”). Universidade Cândido Mendes. Disponível em: http://www.avm.edu.br/docpdf/monografias_publicadas/C203672.pdf

 

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