Cultura e cidadania na batida do curimbó

No batuque do curimbó, no rodar da saia florida, nos pés descalços, no suor alegre de crianças e jovens. Assim Laura Sena busca trazer cidadania e garantia de direitos para crianças e adolescentes no Barreiro: com música e dança regional.

Laura Sena e dançarinas do Pará Caboclo. Foto: Arquivo pessoal.

A dançarina, coreógrafa e ativista cultural explica que o Pará Caboclo, grupo criado e coordenado por ela, não é simplesmente um grupo parafolclórico. Desde a sua criação, busca garantir direitos previstos no artigo 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente: direito à vida, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Grupo Pará Caboclo reúne músicos e dançarinos para promover direitos de crianças e jovens no Barreiro. Foto: Arquivo pessoal.

Junto com o Instituto Maria Celeste e a Escolinha de Futebol do Barreiro, o Pará Caboclo envolve as crianças desde pequenas para inseri-las no universo do esporte, de oficinas, da música e da dança e afastá-las do aliciamento do crime.

Crianças do grupo participam de apresentação. Foto: Arquivo pessoal.

Crianças participam de ensaio do Pará Caboclo. Ao fundo, Laura observa e conduz. Foto: Deco Barros.

Crianças participam de ensaio do Pará Caboclo. Foto: Deco Barros.

Atualmente o projeto conta com a ajuda de 35 colaboradores. E já passaram inúmeras crianças pelo projeto, tantas que Laura não consegue enumerar.

 

Como tudo começou

Ao ensinar as crianças da rua de sua casa, Laura foi notada pelo padre de uma paróquia da região, que rapidamente pediu para que a jovem ensinasse o ritmo às crianças da comunidade.

"Começou com a Flor do Grão Pará: eram crianças pequenininhas e elas foram crescendo e foram dançar em outros grupos. Na época nós não tínhamos grupo regional. Com os amigos houve a ideia de formar um grupo nosso, daqui do Barreiro. O Pará Folclórico existe desde 2010, mas nós trabalhamos desde 2001 a cultura", relata Laura.

 

O bairro e a dança

O Pará Caboclo uniu lados antes separados pelo tráfico de drogas. A artista conta que antes da atuação do projeto no bairro, a violência era muito mais presente. "Nós tínhamos uma guerra entre ruas, a passagem Caju e a São Benedito, as crianças de lá não podiam vir para cá e as daqui não podiam ir para lá, e essa guerra foi quebrada através do projeto", relembra.

Adultos, jovens e crianças se reúnem para ensaiar em espaço emprestado para o projeto.

A artista lamenta ter perdido alguns jovens no meio do caminho. "Perdemos muitos adolescentes, mas hoje eles [traficantes] respeitam os jovens e as crianças que participam do projeto. E realmente eles paravam de aliciar".

 

Transformação de vidas através da cultura

"As crianças começam pequenas e vão até a adolescência. Hoje alguns deles são formados em Educação Física e utilizam a dança como plano de aula. Então eu digo que alguns a gente trouxe para o meio, transformamos em músicos”, comenta orgulhosa. Mas Laura lembra que este não é um projeto individual. “Ninguém trabalha só, eu preciso que alguém se apaixone comigo para fazer esse sonho dar certo".

Projeto promove a cultura e a cidadania entre jovens e crianças no Barreiro. Foto: Deco Barros.

Assim como muitos outros projetos sociais, o Pará Caboclo não tem apoio governamental, apenas paixão pela arte e a ajuda da comunidade que mantém o projeto vivo. "Nós não temos uma sede, nós contamos com a colaboração de amigos. E é desse jeito que a gente faz cultura, com o pé no chão, na chuva", comenta ao apontar para os jovens que descansavam após uma noite chuvosa de ensaio.

Galeria de fotos

Fotos: Deco Barros

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