Música, poesia e arte para transformar vidas no Jurunas


“A arte muda a vida”. Esta é a definição de arte para o poeta e artista visual Samu Periférico, e ela diz muito sobre a sua história e sobre o que ele quer construir do bairro do Jurunas, em Belém do Pará. De uma não aceitação do seu corpo, seu cabelo e demais traços negros, ele se tornou um militante contra o racismo e todas as formas de opressão, e hoje faz da sua arte um instrumento de conscientização social e política para outras pessoas.

“Todos esses meus traços negroides sempre me incomodaram durante certo tempo, não conseguia me identificar, me achar bonito”, relembra Samu. Ele conta que, ao ouvir músicas de pessoas negras empoderadas, percebeu a necessidade de fazer o mesmo pelas pessoas do seu bairro. “Foi aí que eu comecei a escrever poesia sempre enaltecendo o nosso povo, nossos traços. Eu vi essa necessidade de empoderamento e de denunciar o tanto que o nosso povo sofre durante todos esses anos que o racismo está presente”.

Foto: Acervo pessoal de Samu

 

Como tudo começou

Desde criança, quando era simplesmente o Samuel Sales, o artista teve uma relação muito próxima com a música e a dança. Dos 7 até os 17 anos, ele fez parte de uma quadrilha junina organizada pela sua família. Na escola, integrou projeto que desenvolvia atividades de dança, esporte e jogos, e ainda participou de atividades da República de Emaús e da Casa da Linguagem.

Samu hoje é rapper e compõe ele mesmo as suas letras. “Em 2016, comecei a frequentar batalhas de rimas, e assim comecei a encontrar esse meu lado artista de escrever as minhas músicas e denunciar a minha realidade”, comenta o artista que dança, canta, faz cenografia, é poeta e se coloca como aberto a qualquer expressão artística.

 

Pela transformação de vidas na periferia

A revolução que aconteceu um dia na forma de ver a si próprio e o mundo fez de Samu uma voz a ecoar do Jurunas para todas aquelas pessoas que ainda não enxergam a beleza que vem da periferia.

Samu Periférico em batalha de rap. Foto: Acervo pessoal de Samu

Para o artista, ser da periferia tem uma responsabilidade grande, porque ele representa muitas causas que precisam ganhar visibilidade na sociedade. “São poucos espaços que a gente ocupa. Esses espaços nos são negados há tanto tempo... E eu acho que é tão importante estar aqui sendo representatividade, por mil e uma causas que eu represento. Sendo artista, as pessoas da periferia podem me olhar e se ver através de mim, perceber que elas têm as mesmas dores, as mesmas causas”.

Samu desenvolve projetos que visam dar espaço para que os artistas e as pessoas comuns da periferia tenham acesso à arte e à cultura. Um desses projetos aguarda resultado de um edital do governo para ser financiado. “Eu apresento projetos nos quais eu sempre quero envolver as pessoas da periferia, trazer elas para essa cena cultural”, explica o artista, que também faz parte do Gueto Hub, uma biblioteca comunitária e espaço cultural localizada no Jurunas e desenvolvida para a população da periferia.

Mas para além do acesso, ele busca trazer conscientização. É por isso que as suas poesias e letras trazem denúncias ao racismo, machismo e a tudo o que oprime. “Estou sempre falando sobre essas coisas que acontecem no nosso dia a dia, que infelizmente ferem nossos corpos, ferem pessoas periféricas, não abrigam elas”, finaliza.

 

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