O açaí, fruto essencial na dieta das populações ribeirinhas da Amazônia, transformou-se em uma das commodities mais valiosas do mercado internacional. No entanto, essa ascensão econômica tem gerado impactos significativos nas comunidades tradicionais, que enfrentam desafios para preservar suas práticas culturais e o acesso ao fruto.
Para as populações ribeirinhas e indígenas, o açaí não é apenas alimento, mas parte de uma herança cultural. Porém, com a crescente demanda global, o fruto tem se tornado escasso e caro, dificultando o acesso das comunidades locais. Pequenos produtores, que antes cultivavam de forma sustentável, agora enfrentam a pressão de grandes exportadores que priorizam o mercado externo. O aumento da monocultura do açaí tem reduzido a biodiversidade, colocando em risco o equilíbrio ecológico da Amazônia. Além disso, a exploração intensiva gera disputas de terras, marginaliza pequenos produtores e resulta em condições de trabalho precárias para muitos que dependem da colheita.
Essa luta entre tradição e exploração é retratada no curta-metragem “AÇAÍDA: MANO, TU É DAQUI, NÃO É DE LÁ”. A obra narra o romance de Sebastião, um jovem ribeirinho da Ilha do Combú, e Mariana, uma quilombola que produz farinha de mandioca, destacando o simbolismo do “vinho” do açaí e da farinha como símbolos de resistência cultural.
Segundo o diretor Mário Costa, o filme busca celebrar os saberes ancestrais da Amazônia. “O curta foi pensado como uma metáfora sobre o quanto as nossas raízes, tanto territoriais como ancestrais, são muito mais potentes do que o que vem de fora. A gente precisa visibilizar a potência desse saber ancestral amazônida, preto, indígena, ribeirinho, quilombola, porque foram esses conhecimentos que moldaram o que é a Amazônia hoje,” afirma o diretor.
O diretor também critica a apropriação cultural do açaí por outras regiões do Brasil: “Nossa cultura ancestral, como tomar açaí com farinha, não pode ser diminuída ou usurpada por culturas colonizadoras, como misturar o açaí com granola, guaraná em pó ou até Nutella. O Açaída é um filme para territorializar essa nossa luta contra o colonizador e nos orgulharmos cada vez mais de sermos amazônidas e paraenses.”
Além do simbolismo e das tensões abordadas no curta, o personagem Caio, interpretado por Arth Morbath, promete arrancar risadas do público com seu carisma peculiar, mesmo sendo o vilão da história. “E enfim, eu acho que mais do que eu falar, é vocês assistirem. Assistam Açaída quando estrear em algum canto e não percam, porque vai ser muito maravilhoso e gostoso de assistir. Eu tenho certeza que, mesmo o Caio sendo vilão, vocês vão amar muito ele. Vocês vão se identificar também, porque ele é meio doidinho, assim como eu.”, brinca o ator.
Especialistas destacam que é possível equilibrar o crescimento do mercado do açaí com sustentabilidade e justiça social. Políticas públicas que incentivem a agricultura familiar e cooperativas locais podem garantir uma distribuição mais justa dos lucros e preservar as tradições culturais. Uma solução que é retratada no Curta Açaída.
O filme tem previsão de lançamento para o fim de dezembro e será publicado no canal do YouTube da Rádio Margarida.