Matéria: Frida Menezes
Edição: Élida Cristo Miranda

A pediatria humanizada é um tipo de atendimento em que se busca tratar as crianças e seus acompanhantes com mais atenção, no sentido de tratá-los da maneira mais humana possível, compreendendo os limites, comportamentos e prioridades de uma criança, sempre dialogando com os responsáveis e com quem está sendo atendido. Abrange diferentes fases da infância e diversas áreas do atendimento de crianças, desde o parto até consultas, internação e vacinação, por exemplo.

Com diversas pesquisas comprovadas cientificamente mostrando sua eficácia, o atendimento humanizado também é previsto pela Política Nacional de Humanização do SUS e indicado pela OMS. Contudo, ainda falta muito para ser aplicado de forma eficaz tanto no atendimento público quanto no atendimento privado.

A pediatra Anna Camila Franco reafirma a importância deste tipo de atendimento. “Desde quando você recebe o paciente, ele já precisa de toda maneira ser humanizado. […] Diante de cada situação, precisamos agir de forma humanizada. Então numa consulta, por exemplo, vou precisar acolher, conversar, saber escutar aquela família, dependendo da idade da criança, vamos conversar diretamente com a criança, isso é muito importante”, explica a médica.

Anna Camila diz que a criança precisa se sentir protagonista do seu atendimento e confiar em quem está lhe atendendo, o que pode evitar traumas, medo, coisas que perduram para a vida toda. Ela também ressalta a importância de saber reconhecer quando o acolhimento não está sendo realizado, para que se possa saber reivindicar seu direito. “Agressões, falta de empatia para situações de religião, cultura… É muito importante que num atendimento o paciente seja respeitado na sua integridade, que seja atendido cordialmente. Se isso não acontece, não é humanizado”.

Cada local de atendimento em saúde tem seu sistema de avaliação da satisfação do público, onde pode ser denunciado qualquer caso de insatisfação com o profissional ou com o local. Em casos mais sérios, nos quais o paciente se sinta constrangido, agredido etc., é necessário acionar o Conselho Regional Médico para que seja apurado e não seja normalizado esse tipo de situação.

 

Conhecer os direitos da criança é fundamental

Jússia Carvalho é jornalista e mãe de Inácio, de 1 ano e 6 meses. Eles já tiveram experiências tanto boas quanto ruins, e Jússia sabe identificar cada uma delas, pois sempre buscou saber sobre esse tipo de atendimento. Ela relembra uma situação recente na qual o atendimento foi completamente desumanizado. “Eu não podia amamentar meu filho enquanto ele era vacinado, e tampouco colocá-lo no colo, como fiz nas outras vezes em diversos postos de saúde de Belém. Segundo a enfermeira, eu tinha que colocar ele na maca, segurar as pernas dele à força, mesmo que chorasse e esperneasse, enquanto ela segurava os braços. […] Eu me recusei e falei dos protocolos da OMS sobre a mamalgesia (segundo a qual enquanto o bebê mama, a dor da vacina é menor e tem menor efeito posterior também, como febres e dores), mas ela não aceitou o argumento. Eu disse que não aceitaria a maca, recusei vacinar meu filho de uma maneira violenta. Então, devolveram o cartão de vacinação rasurado e disseram para procurar outro posto. A verdade é que precisamos estar atentos e defender o SUS e sua base humanizada. Eu fiz denúncias nas ouvidorias, pois outras crianças estão sendo violentadas e talvez os familiares que acompanham nem saibam”, explica a jornalista.

Jússia Carvalho e seu filho Inácio (Foto: Arquivo pessoal).

A mãe do pequeno Inácio também conta que teve experiências boas e deixa dicas para outros responsáveis saberem dos seus direitos. “Eu tive excelentes experiências nos outros postos de saúde nos quais meu filho foi vacinado. As enfermeiras conversam, explicam, pedem para colocar ele no colo, dizem que pode mamar. […] Desde que eu descobri a gravidez eu não paro de estudar. É preciso se empoderar e descobrir seus direitos e também os melhores cuidados com seu filho. É pouco provável que peguem pela sua mão e expliquem. A área da saúde tem muito forte o saber técnico, mas muitas vezes acaba deixando de lado o tratamento empático, humanizado, que junto com o conhecimento técnico tem bons resultados. A minha dica é: se empodere, estude e saiba o que é bom pra você, seu filho e lute por isso”.

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