18 anos, fotógrafo e co-fundador do perfil @midiagaviao, Kaiti faz parte dessa juventude que protagoniza a luta dos povos indígenas por meio da atuação nas ruas e nas redes sociais digitais.

O jovem que pretende fazer a faculdade de Jornalismo ou Designer Gráfico, no ano que vem, é da etnia Gavião, terra indígena Gavião que fica no Sudeste do Pará, no município de Bom Jesus, em Marabá.

A Rádio Margarida entrevistou Kaiti na ocasião de sua participação no X Fórum Social Pan-Amazônico, no qual esteve em uma Roda de Diálogo sobre Ecossistemas (edu)comunicativos indígenas na Amazônia.

"hoje em dia a gente tem [a comunicação] como uma arma pra gente lutar"

Rádio Margarida: Como foi o processo de criação do perfil Midia Gavião?

Kaiti Gavião: Eu estava falando com um amigo, a gente tinha acabado de chegar do Acampamento Terra Livre (ATL), em Brasília e no mês seguinte era a Marcha das Mulheres Indígenas. Aí no ônibus, indo pra Marcha, eu já tava com essa ideia na mente, eu passei pra um amigo meu que apoiou e a gente abriu a conta no Instagram e começou a postar as fotos das mulheres indígenas que iam pra Marcha, em Brasília. Todo o processo que aconteceu lá, a gente saiu postando, principalmente do povo Gavião, porque eu via os outros [povos] saindo no Mídia Ninja, na Apib [Articulação dos Povos Indígenas Brasileiros] e quase não mostrava o pessoal do Gavião, entende? Aí, eu e mais uns amigos meus, tivemos essa ideia de divulgar que a gente tem dança, a gente tem nossos rituais também.

Rádio Margarida: E como ocorre esse processo lá na Aldeia Gavião?

Kaiti Gavião: A gente tem um pensamento que é pegar pelo menos um jovem de cada aldeia pra virar o comunicador da aldeia. Eu e mais um amigo meu, a gente foi passando a ideia pra outra, que vai pra outra e assim vai aumentando. Hoje somos uns seis, eu acho. Quase todos da mesma etnia Gavião, mas de aldeias diferentes. São mais de vinte aldeias. Quando tem um evento grande em certa aldeia, a gente vai, faz o convite, posta na página e a gente vai lá fazer a cobertura desse evento.

Rádio Margarida: Como é a relação da aldeia de vocês com a comunicação?

Kaiti Gavião: Pelo que vi nesse tempo agora o pessoal tá pegando a ideia de que é uma coisa boa, que pode ampliar as vozes, né, e também a gente pega muito na base de mostrar a cultura do povo Gavião, mostrar que a gente tá vivo.

Rádio Margarida: Quais são as principais lutas do povo Gavião?

Kaiti Gavião: Pelo que eu já vi, a nossa terra é uma das que mais sofrem impactos, como tem a BR que passa lá, tem a Eletronorte, tem a Vale. Aí, isso impacta muito a terra em si, risco de extrair mais a terra e sempre tem alguma coisa com essas grandes empresas. Tipo agora passa um trilho dentro da reserva, aí eles querem passar, querem aumentar esse trilho, aí tem todo um processo, conversar, de como vai ser. A nossa terra é uma das que são demarcadas, só que a gente não deixa de ir pra Brasília pra apoiar as terras dos outros [povos] que não são demarcadas.

Rádio Margarida: Como tu enxergas a relação da juventude hoje com as tecnologias nesse processo de resistência?

Kaiti Gavião: Hoje em dia tudo é com base na internet, né? Gravar um vídeo, tu consegue tantas visualizações. E hoje em dia a gente tem [a comunicação] como uma arma pra gente lutar, como um meio de abrir vozes, né? E está vindo muita gente ainda, da fotografia, da comunicação em geral. Graças a Deus está aumentando lá essa juventude! Um jovem vê outro jovem, vê o trabalho dele, aí já vai se identificando e gostando também. É uma coisa interessante que só vai aumentando. E é bom pra nós no geral!

Rádio Margarida: E vocês têm parceria com outras mídias?

Kaiti Gavião: Sim, o pessoal que trabalha comigo, de vez em quando a Apib chama eles, a Mídia Índia. Agora tem um um parceiro meu que tá lá em Munduruku. Ele tá cobrindo um evento que a Feepipa [Federação Estadual dos Povos Indígenas do Pará] chamou ele. Então, em geral tem parceria. Tipo, eu vim pra cá [pro Fospa] por meio de indicação. Se não vai dar certo pra um vir, mas tem outro. Um indicando o outro, assim fica melhor.

Para conhecer a atuação do Mídia Gavião, acesse aqui.

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