A riqueza artística que emerge da periferia não tem limites. E o Núcleo São Joaquim, com seu “Grupo de Cultura Grão Pará”, nos apresenta uma versão urbana do carimbó. Manoel Fonseca nos conta essa história de como nasceu essa nova roupagem da tradição carimbolesca do Pará:

Eu e mais dois parceiros, do Coletivo de Cultura Grão Pará, que é um grupo de carimbó, na verdade, começamos a frequentar as batalhas de hip-hop, mais precisamente na Praça do Jaú. E depois começamos a olhar as outras batalhas de hip-hop que tinham nas proximidades, como a batalha do Marex.  Aí a gente anunciou nosso coletivo lá também, como uma atividade de rua, porque a nossa música também é de rua, é das esquinas, das calçadas. Ou seja, a gente tem muita semelhança com o hip-hop. Daí conseguimos trazer alguns artistas do hip-hop para dentro do Conjunto Grão Pará, que estão com a gente até hoje.

Manoel Fonseca na sede do Núcleo Sociocultural e Ambiental São Joaquim. Foto: Deco Barros.

Nunca abandonamos a iniciativa dos garotos do hip-hop, porque sabemos que ali é o começo de uma vida cultural com coerência. A gente analisa as letras das músicas: com conteúdo, uma música de protesto contra toda essa situação de exploração, de marginalização da juventude periférica. A gente sabe que ali está o verdadeiro protesto da periferia, representada nas vozes desses garotos do hip-hop e também na nossa música, no nosso carimbó. Apesar da gente cantar e tocar muito a música dos grandes mestres paraenses de carimbó, os compositores que vieram do lado do hip-hop acabam trazendo letras de protesto, que tocadas em ritmo de carimbó dão uma conotação mais moderna, podemos até chamar de um “carimbó urbano”, porque o carimbó é a música, mas a gente acaba dando uma conotação mais urbana. É o caso do nosso compositor Filipe Allen, que possui várias composições que retratam bem essa questão de protesto, de não aceitar a condição social que é imposta pela sociedade para os jovens da periferia. 

Então a gente fica muito satisfeito por determinadas ideias que esses garotos trazem para o Coletivo Grão Pará.

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