Em 09 de agosto de 2022, celebramos o Dia Internacional dos Povos Indígenas. A data deve estimular a sociedade a refletir sobre o papel dos povos indígenas, as demandas de luta e o que podemos fazer para contribuir com a causa. Há muitos equívocos e imaginários acerca dos povos indígenas que devem ser desmistificados para que a gente não reproduza estereótipos e nem viole os direitos dos povos originários.

Primeiramente, precisamos aprender mais sobre o passado histórico para compreender o presente de lutas. A história que nos foi repassada sobre o processo de colonização, por séculos foi contada sob a ótica dos colonizadores, com o objetivo de valorizar uma postura de desbravamento, enaltecendo a coragem de ir além-mar descobrir novos territórios e de trazer desenvolvimento e progresso para as regiões conquistadas.

No entanto, esse viés histórico invisibiliza a perspectiva dos povos que foram dominados, subalternizados e escravizados por um imaginário criado pelos colonizadores de que os povos que habitavam o território não tinham alma, não eram civilizados, eram irracionais, portanto, foram desumanizados. Isso justificou toda a violência, estupro, assassinatos, genocídio e etnocídio que foram perpetrados sobre os povos originários.

Esse histórico de colonialidades deixou um legado de desigualdades sociais e estereótipos que até hoje atravessam os corpos de homens, mulheres, crianças e idosos indígenas. A Política de Estado foi e continua sendo uma das principais reprodutoras desse pensamento colonial que sob a égide de um pensamento neoliberal desenvolvimentista explora territórios, saqueia recursos naturais, se apropria de saberes ancestrais e provoca o genocídio dos povos indígenas.

Eliane Potiguara (2018) destaca o legado de opressões que o processo colonizatório deixou: fome, enfermidades, migração e empobrecimento compulsório das populações, trabalho semiescravo, causado pela atuação de madeireiros, garimpeiros, latifundiários, mineradoras, empresários, que, com a conivência do poder governamental, causou graves impactos ambientais, genocídio e etnocídio. Para ela, a violência e o racismo ambiental atingiram mais fortemente as mulheres e as crianças que sofrem abuso, assédio, violência sexual, se tornam objeto de tráfico e exploração sexual.

Os povos indígenas lutam pelo quê?

Atualmente, uma das demandas mais fortes de luta dos povos originários refere-se a política anti-indígena estabelecida pelo Governo Bolsonaro, de perspectiva neoliberal que defende o Estado mínimo para os mais vulnerabilizados, valoriza o mercado e a acumulação de riquezas, considerando os territórios como fonte de mercadorias e os povos que lá habitam como o empecilho para o desenvolvimento.

Mas, pergunta Ailton Krenak, em seu livro Ideias para adiar o fim do mundo: “Desenvolvimento para quem?” (KRENAK, 2019).

Em função desse imaginário hegemônico, diversas medidas vêm sendo tomadas pelo Estado brasileiro no intuito de anular ou dificultar a demarcação de novas Terras Indígenas. O Projeto de Lei 490/2007, aprovado em junho de 2021 na Câmara dos Deputados, inviabiliza a demarcação de TI’s e facilita a abertura desses territórios ao agronegócio, à mineração e à construção de hidrelétricas.

Segundo Relatório do CIMI (2021) foram registrados 256 casos de “invasões possessórias, exploração ilegal de recursos e danos ao patrimônio”, em pelo menos 151 terras indígenas, de 143 povos, em 23 estados brasileiros. Isso significa que houve um aumento de 134,9% dos casos registrados, em relação a 2018 (G1, 2021).

No período mais crítico da Pandemia, os territórios ficaram mais vulneráveis à invasão de terras, em função da ausência de fiscalização, além da insegurança alimentar e falta de apoio estatal para a saúde indígena, inclusive com subnotificação de casos.

O racismo ambiental, associado a outras formas de opressão como capitalismo, colonialismo e patriarcado, está gerado um verdadeiro genocídio indígena, sendo mulheres e crianças os grupos mais afetados. Por esses e outros fatores, precisamos nos aliar, toda a sociedade, para somar a essa luta.

O que a sociedade pode fazer para ajudar?

A sociedade precisa aprender a respeitar o sagrado território, a diversidade cultural e étnica e os saberes ancestrais produzidos por mais de 305 povos indígenas distintos, falantes de pelo menos 274 línguas. Dessa maneira, não reproduzir estereótipos como utilizar a palavra índios, substitua por indígenas ou povos indígenas, pois representam o coletivo de lutas.

No carnaval e outras datas festivas, não devemos nos fantasiar de indígena, com cocar e pena; não devemos reproduzir ditos populares, como “índio é preguiçoso”; “índio fala errado”, “isso é programa de índio” e nem duvidar quando uma pessoa se auto define como indígena e vive em contexto urbano, pois temos indígenas ocupando diversos lugares e papeis sociais e isso não os torna menos indígenas.

As pessoas devem procurar saber sobre as lutas dos povos indígenas: ler livros de autoria indígena; procurar perfis nas redes sociais que sejam de pessoas indígenas; buscar em sites especializados. Além disso, nas próximas eleições, procurem identificar candidatos e candidatas que sejam indígenas e / ou defendam as pautas indígenas. Conversem sobre isso nos espaços de relações sociais, família, escola, amigos e comunidade.

Referências:
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo (Nova edição). Editora Companhia das Letras, 2019.
POTIGUARA, Eliane. Metade cara, metade máscara. Global Editora, 2020.



Indicamos aqui três sites, perfis e autorias indígenas para ajudar a entender a luta e resistência dos povos originários.

sites
https://apiboficial.org/
https://coiab.org.br/
https://anmiga.org/

perfis

https://www.instagram.com/guajajarasonia/
https://www.instagram.com/eloyterena/
https://www.instagram.com/joeniawapichana/

autorias

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