Matéria: Mayra Peniche

Ainda pouco conhecido, o apadrinhamento afetivo é uma medida prevista no ECA que tem como objetivo proporcionar a crianças e adolescentes vínculos familiares e comunitários fora dos abrigos e lares de acolhimento. Quem se torna um padrinho ou madrinha também pode colaborar com o desenvolvimento social, moral, físico, cognitivo, educacional e financeiro do seu afilhado ou afilhada.

Na prática, o padrinho e/ou madrinha acolhem em alguns momentos essas crianças e adolescentes em seus lares e podem proporcionar momentos de lazer como idas ao cinema, museus e bosques. Além disso, participa de situações da sua vida cotidiana, como consultas médicas ou apenas um dia normal em família.

Segundo o ECA, para ser padrinho ou madrinha afetiva é necessário ter mais de 18 anos e não estar inscrito no cadastro nacional de adoção. Cada estado pode criar seu próprio programa de apadrinhamento e ter regras específicas. No Estado do Pará, que tem o Programa de Apadrinhamento Conta Comigo, é necessário também fazer um curso de apadrinhamento.

Há 5 anos sendo madrinha junto com o marido, Cecília Bernardes da Costa viu no apadrinhamento uma forma de ajudar o abrigo próximo de sua casa, que fica localizada em Luzimangues, distrito de Porto Nacional, Tocantins.

Cecília conta que a Comarca de Luzimangues não oferece nenhum tipo de curso para os candidatos a padrinhos. “Nós não fizemos nenhum curso, na verdade nem sei se a Comarca disponibiliza esse curso de apadrinhamento afetivo, mas como a gente já ajudava com a organização de festinhas e eventos no abrigo, foi criando uma liberdade, uma confiança com as pessoas que trabalham lá”, relata.

Cecília, seu esposo e seu filho.

É importante ressaltar que a postura dos padrinhos deve ser diferente das pessoas que pretendem adotar, para não gerar expectativas de adoção por parte das crianças e adolescentes. “A essas crianças que a gente apadrinha, seja para passar fim de semana ou um tempo maior, deixamos bem claro que somos padrinhos e não temos nenhuma intenção de adotá-las. Até porque muitas delas ainda não estão disponíveis para adoção, os pais delas ainda não perderam a guarda definitiva”, conta Cecília.



Deixar marcas positivas na vida de alguém

Ela acredita que o programa de apadrinhamento é importante não apenas para as crianças e adolescentes que participam, mas também ajuda a diminuir a sobrecarga sobre os trabalhadores dos abrigos. Além disso, é um laço afetivo que muitas vezes o abrigo não pode dar. “Por mais que você já tenha filhos ou não queira adotar, mas seja padrinho. Doe um tempo da sua vida, doe um pouco da sua casa, para deixar marcas positivas na vida dessas crianças, pois elas sempre saem com um aprendizado diferente. Por melhor que o abrigo seja, não é uma família”, comenta.

Ao longo dos 5 anos como voluntária, Cecília conta que sofreu críticas. “Sempre dizem ‘nossa mas no fim de semana em que vocês poderiam estar descansando, você está cuidando do filho dos outros?’ Eu e o meu marido sempre escutamos essas piadinhas”, desabafa.

Porém, mesmo com as críticas, Cecília não desanima e encoraja outras pessoas a fazerem o mesmo. “Se a gente pudesse entrar na cabeça e no coração das pessoas e falar assim: doe um tempo no final de semana para uma criança, seja voluntário. No apadrinhamento você tira um tempo pra ouvir aquela criança. Não vou mentir dizendo que é fácil, que são apenas flores. É um desafio. Tem criança que faz birra, tem criança que adoece, mas você está lá, cuidando, dando remédio. Mas você também sabe que está marcando uma vida”, finaliza.

Saiba mais sobre o Programa de Apadrinhamento Afetivo Conta Comigo aqui.

© 2022 Rádio Margarida | Todos os direiros reservados.