Os sonhos de uma vida

Sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só.
Mas sonho que se sonha junto é realidade.
(Raul Seixas)

Sonhar é um ato de coragem. Essa é a conclusão à qual chegamos no último episódio do nosso webdocumentário Arte e Cidadania, pois os/as 6 artistas que dividiram suas histórias conosco nos fazem refletir que até o direito a sonhar de quem vive nas periferias urbanas é cerceado. Diante do abandono, a desesperança é algo que flerta o tempo inteiro com as pessoas nesses territórios, a desilusão ocupa o espaço dos sonhos. Então sim, sonhar é um ato de coragem!

Ao tratarmos sobre seus sonhos, nossos/as protagonistas trouxeram à tona diversas questões sociais e culturais que falam bastante sobre o que é viver em uma periferia urbana, e o que esperar para o futuro delas e de quem nelas vivem. Os sonhos pessoais já nos dizem sobre a importância de sobreviver trabalhando com Arte, como nos é revelado pelos depoimentos de Carol Magno e Awazônia, com as seguintes falas:

“Meu sonho é continuar trabalhando com arte, não ser engolida pelo mercado de trabalho, não ser engolida pelo sistema que força com que a gente tenha que fazer uma escolha entre ser e não ser artista.” (Carol Magno)

“Meu sonho... é trabalhar bastante em arte, é conseguir dar uma estabilidade para minha mãe, para minha família, para mim. Viver!” (Awazônia)

Ser reconhecido/a e valorizado/a como artista também é algo relevante na visão de futuro expressa nos depoimentos. O “sucesso” é algo que todo/a artista busca, ter sua Arte acessada pelo maior número de espectadores possível, expandir seus horizontes para além das fronteiras locais. Essa expectativa aparece nas falas de Awazônia, Samu Periférico, Ordep, Manoel Fonseca e Laura:

“Eu quero alcançar muitos locais, não só a Região Metropolitana, o bairro onde eu moro, mas eu quero ir para os interiores, eu quero ir para fora, eu quero conhecer o mundo, eu quero fazer muitas coisas através da arte.” (Awazônia)

“O sonho do Samu Periférico, sim, é ser reconhecido no Brasil, mundialmente, estar ajudando, qualificando e mostrando toda essa cultura aqui que a gente traz, daqui do Jurunas, do Norte, para o Brasil e para o mundo.” (Samu Periférico)

“De uma forma justa, produzir o máximo de trabalhos aqui na cidade de Belém é uma meta também como artista, né? E, quem sabe um dia, transformar nossa cidade aqui, nossa metrópole, num polo de arte urbana, de grafite.” (Ordep)

“A gente quer que o nosso artista se valorize na nossa comunidade. A gente tem a ideia de que os visitantes e os moradores de Belém, de modo geral, venham fazer turismo na nossa comunidade.” (Manoel Fonseca)

“A gente ainda não está onde eu quero chegar. Porque eu quero levar o Pará Caboclo para participar dos grandes festivais do Brasil, né?” (Laura Sena)

E por fim, os/as artistas relatam seus sonhos coletivos, os desejos pessoais que almejam mudanças em seus bairros. É nesse momento dos depoimentos que se evidencia a relação íntima entre a vida e a obra desses 6 artistas, e principalmente suas preocupações com suas comunidades. Esse senso coletivo, de cidadãos e cidadãs, se manifesta nos sonhos que foram narrados, que muitas vezes se aproximam na idealização, como se as periferias urbanas dialogassem sobre suas necessidades e soluções. É isso que encontramos nas falas a seguir de cada um/a dos/as artistas:

“Eu quero ter uma casa de cultura lá dentro da área do Barreiro. Não só a sede do grupo Pará Caboclo, mas uma sede que fale de cultura no geral, que abrange a cultura de todas as formas.” (Laura)

“Seria um sonho enxergar num bairro como o Jurunas um espaço que abrigasse todas essas linguagens. Eu acho que um espaço de cidadania, né? De construção de saberes.” (Ordep)

“Eu tenho um sonho muito forte para o bairro que é, primeiro, que as pessoas tenham uma qualidade de vida melhor, que tenha menos violência, que ele seja menos esquecido pelo poder público. O outro sonho que eu tenho para o bairro é um dia poder transformar a casa que eu cresci num espaço cultural.” (Carol Magno)

“Mas acima de tudo é o desenvolvimento do Jurunas, para que todas as pessoas sejam qualificadas, não vivam à mercê da sociedade. Eu acho que o que eu quero mesmo para o meu bairro é que todas as pessoas tenham como se manter na sociedade de forma digna.” (Samu Periférico)

“Eu queria parar de andar no Barreiro e escutar os sussurros de que as pessoas estão sem dinheiro para comer.” (Awazônia)

Esses são os/as sonhadores/as que, por meio das suas artistagens, já transformam realidades, já interferem nas suas comunidades e fazem a diferença. E com o trabalho que realizam, seja na música, nas artes visuais, na dança, na literatura ou na cultura popular, já são referências para novos/as sonhadores/as que surgem no coração dos bairros do Barreiro e do Jurunas.

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